APÓSTOLO PAULO, UM HOMEM IGUAL A NÓS


APÓSTOLO PAULO, UM HOMEM IGUAL A NÓS

Autoria de J. Oswald Sanders

Parece haver uma evidente falta de liderança forte, segura, carismática de que nossa época confusa necessita com tanta urgência. Um cidadão preocupado, perturbado pelas condições predominantes e pela incapacidade dos dirigentes de sua nação encontrarem uma panacéia para males, comentou:

A conjuntura crítica não encontrou senão atores de segunda categoria no palco político, e o momento decisivo foi negligenciado porque os corajosos eram deficientes em poder, e os poderosos deficientes em sagacidade, coragem e resolução.

Essas palavras soam como se proferidas em nossos dias, mas foram escritas há um século, por Friedrich Stiller. Será que as coisas mudaram de maneira essencial nos anos intervenientes? As palavras vívidas de nosso Senhor estão-se comprovando verdadeiras, e diagnosticam com precisão as condições atuais: “Sobre a terra angústia, entre as nações em perplexidade por causa do bramido do mar e das ondas” (Lucas 21:25).

As condições mundiais terão piorado consideravelmente desde aquele tempo, mas seria muito apropriada a mesma avaliação da época atual. Cada geração tem de enfrentar e resolver seus próprios problemas de liderança, e hoje nos defrontamos com uma crise aguda de liderança em muitas esferas. É uma crise após outra; nossos líderes nos oferecem poucas soluções, e o prognóstico não é de maneira nenhuma tranqüilizador.

A Igreja não tem escapado a esta escassez de liderança competente. A voz que outrora soou uma clarinada de esperança à humanidade sitiada está agora estranhamente silente, e a influência da Igreja na comunidade mundial tornou-se mínima. O sal perdeu muito do seu sabor, e a luz o seu brilho.

O mero lamentar deste estado de coisas é contraproducente. Um tratamento mais construtivo seria descobrir de novo os princípios e fatores que inspiraram a dinâmica liderança espiritual de Paulo e de outros apóstolos nos dias serenos da Igreja, e esforçar-se por aplicá-los à nossa própria situação. Os princípios espirituais são permanentes – não mudam de geração para geração.

Um amigo observou: “Não é humilhante vermos nossas próprias faltas correndo de um lado para outro sobre duas perninhas? Quando vemos as faltas corporificadas em alguém, as nossas próprias se nos tornam dolorosamente óbvias. De igual maneira, podemos captar os princípios espirituais mais prontamente quando os vemos corporificados em alguém do que quando formulados como meras proposições acadêmicas.

É por isso que um dos mais recompensadores estudos da Bíblia é investigar a interação da divina providência e da personalidade humana nas vidas de homens e mulheres iguais a nós; e descobrir como as condições e experiências da vida anterior foram controladas e moldadas por mão habilidosa e beneficente.

Devemos ser gratos que a inspiração divina tem assegurado a preservação e seleção dos fatores providenciais envolvidos. Os fatos simples, sem retoques, foram registrados de uma maneira direta, sem nenhuma tentativa de retocar o quatro. A Bíblia é cuidadosa no retratar seus personagens como realmente foram, sem ocultar nenhum defeito.

É em nosso Senhor, e não em Paulo, que vemos o ideal de liderança, pois é ele o líder por excelência. Alguns há, porem, que acham a perfeição de Cristo  amedrontadora e um tanto desencorajadora. Pelo fato de ele não haver herdado natureza pecaminosa como nós, acham que isto lhe confere uma ampla vantagem, e o afasta da arena das lutas e fracassos terrenos na qual a maioria se encontra. Parece que ele está tão acima deles que não conseguem obter muita ajuda prática de seu exemplo brilhante. Embora esta perspectiva surja de uma concepção errônea da natureza da ajuda que Cristo pode oferecer, seus resultados são muito reais. 

No apóstolo Paulo Deus proporcionou o exemplo de um “homem semelhante a nós” (Tiago 5:17). Na verdade, ele era um homem de estatura dominante, mas era também um homem que conhecia o fracasso tão bem quanto o sucesso; um homem que clamava em desespero: “Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte”? Não obstante também exultava: “Graças a Deus por Jesus Cristo nosso Senhor” (Romanos 7:24,25).

Essas e outras expressões do seu coração trazem-no para as nossas ruas, onde mais facilmente podemos identificar-nos com as experiências. Ele não foi um “santo inimitável”, mas um homem frágil, falível como nós, que fala às nossas necessidades.

Por isso, em Cristo temos a inspiração de um verdadeiro Homem que nunca falhou, enquanto, em Paulo temos o estímulo de um homem que caiu e se levantou. “Um homem perfeito revela o ideal; um homem derrotado e finalmente vitorioso revela o que, pela graça de Deus, podemos vir a ser... Precisamos de Jesus de um lado e Paulo do outro se quisermos andar em triunfo ao longo do difícil e perigoso caminho”.

Para que o estudo dos princípios de liderança de Paulo tenha proveito permanente, é preciso que seja mais do que acadêmico. Cada leitor, em sua própria vida e esfera de serviço, necessitará dominá-los e traduzi-los em ação. Os fatos devem tornar-se experiência.

Devemos ser gratos a Paulo pela inconsciente auto-revelação que caracteriza suas cartas. Aprendemos muito mais a respeito dele por meio de suas referências indiretas e espontâneas do que pelo material  histórico de Lucas no Livro de Atos. Em sua biografia de A.W. Tozer, D. J. Fant adotou o método de interpretar o homem por via de seus próprios escritos, métodos este que observarei nestes estudos.

Em Paulo encontramos um protótipo inspirador do que um homem totalmente confiados às mãos de Deus pode realizar em uma geração. Teremos como propósito vê-lo especialmente em seu papel de líder da igreja; considerar seus opiniões sobre assuntos pertinentes; examinar as qualidades que fizeram dele o homem que foi, e descobrir como esses traços contribuíram para sua extraordinária liderança.   
 
Translation

APOSTLE PAUL, A MAN LIKE US

Authored by J. Oswald Sanders

There seems to be an obvious lack of strong, safe and charismatic leadership that our confused time needs so urgently. A concerned citizen, disturbed by the prevailing conditions and the inability of the leaders of their nation to find a panacea for ills, commented:

"The critical juncture did not find but second-rate actors on the political stage, and the decisive moment was neglected because the courageous were deficient in power and the powerful deficient in wit, courage and resolution”.

These words sound as if made today, but were written a century ago by Friedrich Stiller. Have things changed in an essential way in the intervening years? The vivid words of our Lord are proving themselves true, and accurately diagnose the current conditions, "Upon the earth distress of nations, with perplexity, roaring of the sea and the waves" (Luke 21:25).

World conditions have worsened considerably since that time, but it would be very appropriate the same assessment of the current time. Each generation has to face and solve their own problems of leadership, and today we are faced with an acute crisis of leadership in many spheres. It's one crisis after another, our leaders offer us few solutions, and the prognosis is not at all reassuring.

The Church has not escaped this lack of competent leadership. The voice that once sounded a clarion of hope for humanity is now besieged strangely silent, and the influence of the Church in the world community has become minimal. The salt has lost much of its flavor, and the light its brightness.

The mere lament of this state of affairs is counterproductive. A more constructive treatment would be to discover new principles and factors that inspire the dynamic spiritual leadership of Paul and other apostles of the calm days of the Church, and we must endeavor to apply them to our own situation. The spiritual principles are permanent - do not change from generation to generation.

A friend remarked: "Is it not humbling to see our own faults running from side to side over two legs? When we see faults embodied in someone, our own faults become painfully obvious. Similarly, we can capture the spiritual principles more readily when we see them embodied in someone than when formulated as a mere academic proposition.

That's why one of the most rewarding Bible study is to investigate the interaction of the divine providence and human personality in the lives of men and women like us, and discover how the conditions and experiences of the previous life were controlled and shaped by skilful and charitable hands.

We should be thankful that the divine inspiration has ensured the preservation and providential selection of factors involved. The simple facts, unvarnished, were recorded in a straightforward manner, without any attempt to touch up the picture. The Bible is careful to portray its characters as they really were; it does not hide any defects.

It is in our Lord, not in Paul, we see the ideal of leadership because he is the leader par excellence. There are some, however, who think the perfection of Christ somewhat frightening and discouraging. Because he has not inherited sin nature as we, they think it gives them a wide margin, and keeps them away from the arena of struggles and failures the lands in which the majority is. It seems that he's above them so that they cannot get much practical help from his shining example. While this perception arises from a misconception of the nature of the help that Christ can give, its results are very real.

In the apostle Paul God gave the example of a "man like us" (James 5:17). In fact, he was a man of dominant stature, but he was also a man who knew the failure as well as success, a man who cried in despair, "O wretched man that I am! Who will deliver me from this body of death?” “Nevertheless he also exulted: "Thank God through Jesus Christ our Lord" (Romans 7:24,25).

These and other expressions of his heart bring him to our streets, where we can more easily identify with the experiences. He was not an "inimitable saint ", but a  frail and fallible man like us, who speaks to our needs.

So, in Christ we have the inspiration of a true Man who never failed, as in Paul we have the stimulus of a man who fell and got up. "A perfect man reveals the ideal, a man defeated and finally victorious reveals that, by God's grace, we might be ... We need Jesus on one side and Paul on the other if we are to walk in triumph over difficult and dangerous path. "

For the study of Paul’s leadership principles to have permanent advantage, it must be more than academic. Each reader in his own life and sphere of service, will need to master them and translate them into action. The facts must become experience.

We should be grateful to Paul by the unconscious self-revelation that characterizes his letters. We learn much more about him through his indirect and spontaneous references than by the historical material of Luke in the Book of Acts. In his biography of A.W. Tozer, D. J. Fant adopted the method of interpreting the man through his own writings; this method I will observe in these studies.

In Paul we find an inspiring prototype of what a man totally entrusted to the hands of God can accomplish in one generation. We aim to see him especially in his role as church leader; to consider his opinions on relevant issues; to  examine the qualities that made him the man he was, and to discover how these traits contributed to his extraordinary leadership.