QUADRO DE ESCATOLOGIA BÍBLICA - 15/05/2020
A Cronologia Escatológica do Profeta Joel (3ª Parte)
(Norbert Lieth)
O professor bíblico Arno C. Gaebelein comenta: “O futuro grande derramamento do Espírito sobre toda carne terá a salvação como consequência. Hoje vale o feliz princípio de que ‘todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo’, mas isso também ocorrerá naquele dia. A palavra da boca do nosso Senhor, de que ‘a salvação vem dos judeus’ (Jo 4.22), se cumprirá em sua forma mais abrangente. Então as nações se unirão ao Senhor (Zc 2.11)”.
A primeira parte de Joel 2.32 aplica-se aos nossos tempos, mas a última frase, “para aqueles a quem o Senhor chamar”, provavelmente aponta para o tempo final, no qual Deus retomará a linha de Israel. Naquele tempo, o remanescente (os que restaram) de Israel será salvo, e esse remanescente salvo representará então todo o Israel: “Um remanescente voltará, sim, o remanescente de Jacó voltará para o Deus Poderoso” (Is 10.21). “E assim todo o Israel será salvo, como está escrito: ‘Virá de Sião o redentor que desviará de Jacó a impiedade’” (Rm 11.26).
Segundo Romanos 11.4, já hoje os judeus que creem em Jesus formam um remanescente – eles pertencem à seleção da graça dentro da igreja. Quando, porém, a dispensação da igreja se encerrar, o Senhor se voltará aos israelitas, que então terão de passar pela tribulação para depois ingressar no reino messiânico. Em Apocalipse 14.1 vemos o Cordeiro de Deus sobre o monte Sião, cercado pelos 144 000 selados de Israel. Eles são descritos como “primícias” porque outros salvos ainda os seguirão (v. 4). Então salvação virá do monte Sião e de Jerusalém para todas as nações.
Como há 70 anos temos de novo um Estado judeu, criou-se a possibilidade de o povo poder novamente esperar o Senhor em Sião, ou Jerusalém. Deus está preparando o povo e a terra para os últimos eventos. “Sim, naqueles dias e naquele tempo, quando eu restaurar a sorte de Judá e de Jerusalém” (Jl 3.1).
A restauração de Israel transcorre em três fases: na primeira, será reunido em sua própria terra, em estado de incredulidade (Ez 36.24); na segunda, receberá em seguida o perdão, quando o Senhor voltar (Ez 36.25); e, na terceira, Deus derramará o Espírito Santo sobre o seu povo, para o seu renascimento (Ez 36.26). Em primeiro lugar vem a restauração física, depois a espiritual. Por isso, não é de admirar que hoje Israel ainda não creia e que se trate predominantemente de um povo secularizado. Parece que essa circunstância se encaixa perfeitamente nos planos de Deus.
O destino de Judá se reverteu em 1948, durante a Guerra da Independência, e o destino de Jerusalém em 1967, com a reconquista da cidade. Cronologicamente reconhecemos em Joel, à luz do Novo Testamento, primeiro o evento de Pentecostes, ainda que não como cumprimento pleno. Segundo, a dispensação da igreja, ainda oculta para o profeta. Terceiro, a renovação do Estado de Israel.
Chama atenção neste contexto o que Deus diz em seguida por meio do profeta Joel: “Reunirei todos os povos e os farei descer ao vale de Josafá. Ali os julgarei por causa da minha herança – Israel, o meu povo –, pois o espalharam entre as nações e repartiram entre si a minha terra. Lançaram sortes sobre o meu povo e deram meninos em troca de prostitutas; venderam meninas por vinho, para se embriagarem. O que vocês têm contra mim, Tiro, Sidom, e todas as regiões da Filístia? Vocês estão me retribuindo algo que eu fiz a vocês? Se estão querendo vingar-se de mim, ágil e veloz me vingarei do que vocês têm feito” (Jl 3.2-4).
Notemos as seguintes ênfases: meu povo, minha herança, minha terra. Joel escreve sobre eventos próximos daquele tempo e sobre eventos que se referem à volta e ao dia do Senhor. Graças à Palavra de Deus completa e aos nossos conhecimentos históricos, temos hoje a possibilidade de distinguir esses eventos.
Há quase 2 000 anos, por volta de 70 d.C., a terra de Israel foi “desjudaizada”, e principalmente os israelitas jovens foram vendidos como escravos. Gaebelein relata: “Quase 1,5 milhão de pessoas morreram em Jerusalém e no país durante aquela terrível guerra. Mais de 100 000 foram para o cativeiro. Segundo Josefo, Tito dispôs desses 100 000 judeus da seguinte maneira: ‘Os menores de 17 anos foram vendidos publicamente. Dos restantes, alguns foram executados imediatamente e outros enviados ao trabalho nas minas do Egito (o que era pior que a morte). Alguns tiveram de lutar com feras nos espetáculos públicos realizados em todas as cidades de maior porte. Só os maiores e mais apresentáveis foram selecionados para o desfile triunfal em Roma’.
Os judeus eram tão baratos que eram vendidos por uma medida de cevada. Milhares tiveram esse destino. E do que mais poderíamos relatar com base na história de séculos senão das cruéis e terríveis perseguições que a herança de Deus sofreu, dos milhares e milhares de trucidados, torturados, desprezados e vendidos como escravos? Então não acabamos de ver recentemente na Alemanha abominações semelhantes?
O desenvolvimento histórico ainda não terminou. Ainda haverá outras campanhas de ódio contra a herança de Israel, até que o iminente período de tribulação para Jacó ofusque todo o sofrimento havido até agora. Esse será um tempo de angústia como não houve desde o início do mundo e que jamais se repetirá (Mt 24.21). Virá o dia em que o Senhor julgará as nações por causa de todo o mal que cometeram”.